Designers devem programar?

Eis aqui uma questão que sempre ouço desde que comecei a trabalhar na área de tecnologia: os designers devem programar?

O designer nem sempre foi parte da revolução da internet, basta pegar as páginas do google e do yahoo para ver que seu público sempre foram os desenvolvedores, afinal a internet não era acessível para toda a comunidade como é hoje. Quando a internet se tornou acessível para os lares de famílias do mundo todo as empresas viram um nicho de mercado onde queriam marcar presença, o designer foi peça importante neste processo: ele era o responsável por criar sites que fossem fáceis de usar e bonitos. Estes profissionais saíram das agências e bureaus de criação e passaram a trabalhar em empresas de diversos ramos: Tecnologia, Bancos, Hospitais, etc. Onde existir um ponto de contato com usuários e consumidores, deveria ter um designer.

firstpage_google
à esquerda pagina atual do google, à direita de 1998, primeira pagina do google.

Com isso, cada vez mais há designers atuando ativamente nas soluções e tendo cada vez mais responsabilidades. Por isso, pensar que designer só faz layouts ou imagens ficou no passado. Os profissionais estão atuando com UX, DxI e UI – completos não? Para algumas empresas não! Ainda falta Programar. Programação? Como assim? Aí já é demais! Na verdade não, o fato de saber programar faz do designer um profissional preparado para os desafios que estão surgindo com as novas tecnologias.

Agora vem aquele testemunhal

Sempre fui contra designer desenvolver, programar ou qualquer variação desse tema, mas não mudei de opinião do dia para a noite. Aconteceu mais ou menos assim: eu sempre preguei que todo o time deveria ter conhecimento de UX e pensar no usuário quando estivessem trabalhando – do Product Owner aos Desenvolvedores, que pensar no usuário é dever de todo o time, e sempre deixei todos a minha volta à vontade para expressar e opinar sobre os layouts e processos do projeto. Mas o contrário não acontecia, por achar programar muito difícil nunca me interessei e sempre usei como desculpa a falta de tempo e habilidades para não precisar aprender. Mas sempre que o desenvolvedor não estava muito afim de fazer um layout falava que era difícil e o trabalho que daria para fazer não caberia na sprint. Como vou argumentar contra isso se não tinha base para discordar, não falava a mesma língua?

Entendi que o meu medo era só um preconceito e aceitei o desafio de aprender a desenvolver E o que isso tem mudado pra mim? Hoje tenho uma outra visão sobre as interfaces que crio, já faço tudo pensando nas grids (marcações construídas com diversos retângulos, para ordenar elementos gráficos dentro de um layout), como eu quero as interações do site ou aplicativo e quais gatilhos usar. Trabalhar com o XAML (principal linguagem de interface da microsoft) também me ensinou a entender e criar pensando nas ferramentas disponíveis para fazer aquele layout, é lógico que eu ainda sento com o time logo depois de rabiscar do wireframe, trocamos ideias, vejo o que é possível ou não, mas hoje quando alguém me coloca aquela pulga atrás da orelha dizendo não sei se isso cabe no sprint, ou não sei se dá certo fazer assim, consigo sugerir, consigo trocar ideia e colocar os motivos pelo qual eu acredito que é o melhor jeito, mesmo que dê mais trabalho.

Desenvolver ensina o designer falar a mesma língua de uma grande parte do o seu time: os designers falam de estratégia de comunicação com o marketing, de ROI com o pessoal de Negócios, do usuário com o cliente, mas evita falar de código com os desenvolvedores, por quê? Assim como pregamos que o designer precisa ter empatia e entender os usuários, é nosso dever também entender com quem estamos trabalhando. Não precisamos ser DBAs (aquele profissional responsável por gerenciar, instalar, configurar, atualizar e monitorar bancos de dados), expert em programação e eu duvido que algum desenvolvedor quer que o designer coloque a mão no banco de dados! Afinal, nossas motivações são diferentes, mas em um time é assim que funciona: os designers entendem de design de interação, mas quem vai conseguir fazer exatamente como foi projetado e desenhado são os desenvolvedores, portanto é fundamental que o designer saiba explicar o que quer, falar a língua de todos os membros do time – aprender desenvolver é fundamental para comunicar as ideias!

Uma observação para os amigos designers

Apesar de entusiasta do tema, eu não incentivo que o desenvolvimento deva fazer parte das rotinas do designer, sabemos que o processo é longo e exige tempo e dedicação, devemos focar na área que queremos atuar. Mas já chegamos até aqui, saímos da nossa zona de conforto e aprendemos todos os dias com os usuários, clientes e com o time, por que não aprender a falar a mesma língua dos desenvolvedores? Aprender o básico da programação não é difícil, mas pode aparecer bichos de muitas cabeças a medida que vamos entrando em águas profundas, rsss…

E você? concorda ou não com a minha opinião? Estamos abertos para novas ideias e a sua opinião é sempre bem vinda!

 


Referências:

http://www.fastcodesign.com/3050675/designers-should-design-coders-should-code

Should Designers Code?

“Should Designers Code?” fetishizes tech over other crucial design skills

http://hackingui.com/design/why-designers-should-not-code/

2 comentários

  1. Ótimo artigo, Alessandra!

    Também acho super válido que designers compreendam/dominem a engenharia pois facilita muito o desenho das propostas. É como uma visão de raio-x :D. Você enxerga as entranhas do software (e os blefes dos programadores). Me ocorreram 2 questões, que gostaria de saber sua opinião a respeito:

    Primeiro, você fala no seu artigo especificamente de front-end ou também back-end?

    Segundo, você enxerga um mínimo necessário para o designer já conseguir dialogar com o programador? Se sim, monta um curso que vai ter muito procura 😉

    Só por curiosidade: eu tive uma trajetória inversa da sua, programei (front-end) antes de ser diretor de arte numa agência. Neste caso, foi pior. Minhas criações eram “menos criativas” (leia-se = mais viáveis) que as dos outros diretores de arte. Meu foco não era um Leão em Cannes, mas o usuário.

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  2. Ponto importante colocado pela Alessandra.

    Vou falar por mim, pois acho que esta questão acaba sendo muito pessoal, já que depende da bagagem e o que almeja em sua carreira, e quanto deseja se aprofundar em suas habilidades.

    E é justamente por isso que, na minha humilde opinião, um designer já tem tanto a aprender em sua disciplina, que se aprofundar em código, pode sim torná-lo mais apto a debater no mesmo nível com desenvolvedores, mas ao mesmo tempo pode desviá-lo de torná-lo um designer (visando a profundidade) mais completo, focado em compreender o business, pois simplesmente não há como fazer as duas coisas ao mesmo tempo e de forma excepcional.

    Será que talvez, aprender a ilustrar (que já é comprovado que não se trata apenas de dom, e sim técnica), não agregaria mais ao trabalho do designer do que codificar? Eu, inclusive, sinto muita falta de não dominar esta técnica 🙂 O mesmo vale para Motion, por exemplo, que depois da morte do Flash, está cada vez mais tomando vida e sendo valorizada novamente por conta do HTML5 e da experiência Mobile.

    A questão é que muita gente vê o designer apenas como um fazedor de layouts, quando na verdade, pra mim, os designers mais agregadores são os que têm um mindset similar a um Gerente de Produto, Product Owner, um agente ativo, facilitador de inovação. E seguindo este raciocínio, não dá tempo de se aprofundar em código, se tem de desafios como entender e aplicar conceitos como Design Thinking, Lean Startup, Lean UX, técnicas de análise de negócio, de gestão de projetos, de gestão de produtos etc.

    Como já disse Tim Brown (sob tradução livre): “Os designers de hoje são os CEOs de amanhã.”, ou seja, muito mais do que meros fazedores de layouts ou wireframes, pois são empoderados pelo pensamento estratégico para o desenvolvimento e transformação de negócios.

    Claro, não estou considerando aqui entender como funciona o básico do HTML e CSS, pois isso pra mim, é pré-requisito para qualquer um que queira se aventurar a desenvolver para internet. O mesmo vale sobre entender as guides iOS e Android, por exemplo, mas não necessariamente, ter de programar nelas.

    E também considero que existem designers visuais muito fodas, reais artistas, e que mandam muito melhor num layout do que muitos UX Designers por aí, que tenham vindo do Design (do layout) e que podem ter se aprofundado em disciplinas como pesquisa, usabilidade, prototipação, e por aí vai…

    Resumindo, acredito no profissional “T-Shaped”, ou seja, que tenha uma visão polarizada, mas que seja especialista no que ele realmente gosta e é bom. E deste ponto de vista, é sempre bom aprender coisas novas, mas tem de tomar cuidado para não atirar pra todo lado e acabar perdendo o foco do que é realmente importante 😉

    Bom, essa é minha opinião e acredito ser divergente do que muitos pensam.
    Acho essa discussão bem importante e estou aberto ao debate 🙂

    Grande abraço e sucesso a todos, designer codificadores ou não \o/

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